Por que Jesus é chamado de Filho do Homem?

Por que Jesus é chamado de Filho do Homem?

outubro 31, 2018 1 Por Palavra em Prática

Muitos já me perguntaram: por que Jesus é chamado de Filho do Homem? Vou te esclarecer o porquê chamamos Jesus de Filho do Homem.

Você sabia que Filho do Homem é o título preferido de Jesus? Isso mesmo! Ele faz referência a si mesmo com esse epíteto mais de 60 vezes. Interessante que Ele prefere esse título a ser chamado de Filho de Deus ou de Messias. Embora não recuse tais tratamentos, ok?

Embora, de início, esse tratamento pode parecer simples demais para uma pessoa como Jesus, descobriremos que ele esconde grandes riquezas, sobretudo na cultura étnica de Jesus. Portanto, não se deve desprezar esse título.




O cristão primitivos não deram ao título Filho do Homem tanta importância, preferindo chamá-lo de Cristo. Ficava assentado, de uma vez por todas, que, gostando os judeus ou não, Ele era sim, o Messias.

Nenhum título o honrou tanto na história como o de Cristo. Todavia, uma vez que o nosso foco está voltado para o título Filho do Homem, devemos descobrir toda a sua importância e a complexidade histórica que o envolve nos escritos bíblicos de Daniel, Ezequiel e outros autores cristãos, como Enoque, 4 Esdras e de Filo.

Filho do Homem em outras perspectivas

O profeta Ezequiel aplica esse termo a si mesmo várias vezes. Ele faz isso sem que haja qualquer relação com o título Filho do Homem autoaplicado a Jesus.

Já em Daniel, temos o trampolim, do qual Jesus dá o Seu salto para uma aplicação, ao mesmo tempo, discreta, sábia e reveladora.:

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.
E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído. Daniel 7:13,14.

A partir de Daniel, para a literatura judaica, esse título se revestiu do sentido de um salvador escatológico. Na visão de Daniel, o Filho do Homem é alguém que vem de cima. Portanto, exerce domínio eterno, tem honra, é servido por todos os povos e, o seu reinado é único e permanente.

Os judeus escolheram a versão de Enoque

Os judeus escolheram a versão dado pelo livro do etíope Enoque sobre o Filho do Homem. Sua versão é de que o Filho do Homem é alguém que foi criado antes de todas as demais criaturas.

Na versão de Enoque, um dia ele virá para julgar as criaturas, mas permanecerá oculto.

No entanto, o acolhimento dos judeus por essa versão, não combina em nada com a esperança messiânica alimentada por eles.




Para Enoque, o Filho do Homem, é um ser celestial, sobrenatural e não um rei deste mundo.

Na cultura judaica, Filho do Homem representa um título majestoso. Portanto, não faz muito sentido eles terem aderido a versão de Enoque.

O filósofo judeu Fílon situa Filho do Homem na criação. Ele faz uma distinção entre Gn 1.27 e Gn 2.7, reclamando a criação de dois homens. Sendo o primeiro um outro Adão, distinto do segundo. Logo, o primeiro foi criado à imagem e à semelhança de Deus. O primeiro veio do céu e possuía a virtude do Espírito Santo. Com isso, Ele é isento de pecado e não perecível. Mas, o segundo homem é o Adão de quem toda humanidade descende.

Assim, temos duas versões sobre o Filho do Homem.: a de Enoque, segundo a qual ele aparecerá no fim dos tempos sobre as nuvens para julgar o mundo, e a de Fílon, que o identifica como o primeiro homem vindo do céu. A versão de Fílon foi mais aceita pelos helenistas.

Sentido escatológico do título Filho do Homem

Jesus deu sentido escatológico ao título Filho do Homem de acordo com a profecia de Daniel 7.13. Em seu sermão escatológico, Jesus disse.:

Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Mateus 24:27.

E disse aos discípulos: Dias virão em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis. Lucas 17:22.

Implicações importantes do título Filho do Homem

O título Filho do Homem traz consigo algumas implicações importantes, entre elas, a daquele que traz consigo juízo. Cullmann diz.:

A função essencial do Filho do Homem que vem é juízo. Na importante passagem relativa ao juízo final das “ovelhas e dos bodes” (Mt 25.31-46), sem dúvida, o juízo é pronunciado pelo Filho do Homem. Ocorre o mesmo em Marcos 8.38, onde, semelhante aos anjos do judaísmo tardio, Ele exercerá a função de testemunha contra aqueles que dele se envergonharem. A atribuição do juízo a Jesus (que o NT costuma atribuir também a Deus) está diretamente relacionada à noção de Filho do Homem. Não temos necessidade de consagrar um capítulo especial a Jesus como “juiz”. Essa qualificação nada representa senão um aspecto da ideia de Filho do Homem.

Sua Humilhação

Outro aspecto relevante no título Filho do Homem, quando aplicado à missão terrena de Jesus é que expressa a Sua humilhação. Logo, o Filho do Homem veio para servir (Mc 10.45).:

E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. Mateus 8:20.

E não é somente isso, mas na Sua humilhação, veio para dar a vida pelos pecadores.:

E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria. Marcos 8:31.

Perceba nesse texto que o filho do homem também é o servo sofredor. Logo, como Filho do Homem, Jesus também representa toda humanidade. Portanto, participando, em Seu corpo, de todas as nossas debilidades.

O que os judeus esperavam do Filho do Homem?

No judaísmo, a esperança no Filho do Homem estava ligada aos meios esotéricos e era aceita como doutrina secreta.

A igreja cristã, por outro lado, não enxergava a importância do título Filho do Homem aplicado a Jesus, mas exaltava-o, naturalmente, como Cristo. Ele sempre foi chamado de Jesus Cristo pelos cristãos.

Na cristologia paulina, o título Filho do Homem se resolve. Cullmann diz.:

Paulo trouxe a solução cristã ao problema judaico da relação entre o Filho do Homem e Adão, de maneira totalmente em acordo com a consciência que Jesus tinha de si mesmo.

O que Paulo pensava sobre isso?

É bem provável que Paulo conhecesse tanto o conceito de Filho de Homem trazido por Enoque, como também o conceito da teoria dos dois homens apresentada por Fílon de Alexandria.

Jesus é chamado por Paulo de “último Adão” (1 Co 15.45).

Paulo identifica o Filho do Homem não com o homem celestial de Fílon, mas com o Jesus encarnado de Nazaré. Percebe-se isso à luz de Romanos 5.12-21.

Como segundo Adão, o Filho do Homem, como homem celestial preexistente, logo, não é criado como afirma Fílon. Além disso, tem duas missões.: a de representar corretamente a imagem de Deus e a de desfazer outro engano, que era transferir o peso dos pecados de Adão para os anjos (Gn 6). Portanto, ele se fez culpado, a fim de resgatar da morte trazida pelo primeiro Adão todos quanto a Ele se achegam (Rm 5.12).

Para resumir, de acordo com o que Jesus revelou de si mesmo como Filho do Homem e o que Paulo trouxe à luz sobre esse título, temos.:

Primeiro, Filho do Homem é aquele que vem para julgar os homens. Segundo, representa Jesus em sua humilhação. Terceiro, representa corretamente a imagem de Deus. Por último, é aquele capaz de oferecer o dom gratuito da vida.